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Dor nas costas

Dor nas costas (lombalgia, dor lombar) é um dos problemas mais comuns no mundo.

Estima-se que cerca de 80% das pessoas vai ter ao menos um episódio de dor nas costas durante a vida.

 

Fatores que aumentam o risco de desenvolver dor nas costas incluem tabagismo (fumo), obesidade, sedentarismo, idade avançada, ser mulher, trabalho pesado ou estressante, insatisfação com o trabalho e fatores psicológicos como ansiedade e depressão.

 

ESTRUTURA  DAS COSTAS

As costas são formadas por ossos, músculos, nervos e outros tecidos que trabalham juntos para nos ajudar a ficar em pé e também inclinar o tronco. Os ossos das costas são chamados de vértebras, as quais em conjunto formam a coluna vertebral. A coluna vertebral protege a medula espinhal, que é a parte do sistema nervoso que ajuda a controlar nossa capacidade de sentir e movimentar.

 

A medula espinhal passa através de um espaço na parte de traz da vértebra. As vértebras são posicionadas uma acima da outra. Pequenos nervos (as raízes nervosas) saem da medula espinhal através de espaços pequenos na parte do lado das vértebras. A coluna vertebral se estende mais para baixo do que a medula espinhal. As raízes nervosas que se estendem na parte inferior da coluna vertebral (região lombar) são chamadas de cauda equina

 

Entre cada par de vértebra da coluna vertebral existe um disco intervertebral. O disco é composto por um tecido rígido externo e um tecido mais amolecido (tipo gel) na parte de do meio. Os discos protegem os ossos agindo como amortecedores, absorvendo o impacto. As vértebras são unidas entre si por ligamentos e tendões, o que permite cada vértebra se mover juntas quando a coluna vertebral se inclina para frente, para traz ou para os lados.

Existe quatro regiões principais das costas: cervical, torácica, lombar e sacral.

 

  • 7 vértebras cervicais estão localizadas no pescoço

  • 12 vértebras torácicas estão localizadas na parte alta das costas.

  • 5 vértebras lombares estão localizadas na parte baixa das costas.

  • O sacro e o cóccix são ossos fusionados e se localizam na base na coluna vertebral.

As vertebras são numeradas de cima para baixo. Por exemplo, a vértebra de cima da lombar é chamada de L1. Lombalgia ocorre na área da coluna lombar, mais comumente em L4, L5 e S1.

 

 

CAUSAS DE DOR NAS COSTAS

Dor lombar pode ter diversas causas. Entretanto, a maioria das pessoas (>85%) tem o que chamamos de “lombalgia não específica”. Esse termo significa que não há uma doença específica ou anormalidade na coluna claramente causando a dor. Muitas pessoas atribuem a dor nas costas a discos degenerados e artrite, embora problemas nos músculos, ligamentos ou outras causas podem também ser as responsáveis pela dor. Muitas estruturas das costas podem gerar dor e nem sempre os médicos conseguem claramente distinguir qual estrutura está causando a dor em cada caso, por isso frequentemente usamos o termo lombalgia não específica.

 

Raramente, a dor nas costas é causada por uma doença séria na coluna como uma infecção, fratura, tumor ou um problema neurológico conhecido como síndrome da cauda equina, que causa fraqueza nas pernas, dificuldade para urinar e defecar além da dor nas costas. Dor nas costas que corre para a perna, formigamento ou fraqueza pode ser causada por hérnia de disco ou estenose da coluna.

 

Discopatia degenerativa: desgaste pode gerar um processo de “envelhecimento” dos discos intervertebrais, com pequenos rasgos, lesões ou perda de líquido nos discos. Isso eventualmente pode levar a outras modificações, como a formação de bicos de papagaio (protuberâncias ósseas). Não deveríamos chamar esse processo de “doença” porque isso ocorre normalmente com a idade e frequentemente não causa sintoma nenhum. Na verdade, muitas pessoas têm discopatia degenerativa identificada no raio X ou outros exames de imagem mas não tem dor ou outros sintomas.

 

Artrose facetaria: ocorre quando há artrite nas articulações (juntas) que conectam uma vértebra na outra na região posterior da coluna. Isso pode causar formações ósseas na faceta articular e dor nas costas. Entretanto, igualmente à discopatia degenerativa, artrose facetaria é muito comum com a idade e muitas pessoas não tem nenhum sintoma.

Espondilolistese: é quando uma vértebra se desliza sobre a outra. Espondilolistese é geralmente causada por estresse nas articulações da coluna lombar e muitas vezes está associada a artrose facetaria. Embora esse problema muitas vezes cause dor lombar e ciática, algumas vezes pacientes não apresentam sintomas e isso é descoberto em um raio X por outra razão.

 

Hérnia de disco: rasgos na parte externa do disco podem levar a uma hérnia de disco, quando o material gelatinoso do meio do disco sai para fora dele pelo rasgo da parte externa. Hérnia de disco podem causar dor na perna ou fraqueza se a hérnia comprime a raiz nervosa. Entretanto, hérnia de disco também são frequentemente encontrados em pessoas sem dor. As hérnias de disco algumas vezes reduzem de tamanho pela reabsorção de líquido pelo próprio corpo, muitas vezes aliviando a pressão ou irritação no nervo.

A protrusão do disco é menor que a hérnia e é visto em cerca de 50% das pessoas sem dor nas costas. A maioria das protrusões do disco não causam sintomas, mas ocasionalmente podem causar irritação das raízes nervosas.

 

Estenose do canal lombar: estenose ocorre quando o canal vertebral (o espaço por onde passam os nervos na coluna) está estreitado. Isso é geralmente causado por protuberâncias ósseas (bicos de papagaio), que ocorre mais comumente em pessoas idosas. A estenose do canal lombar pode causar claudicação neurogênica (leia abaixo em “sintomas”). Assim como hérnia de disco, a estenose do canal lombar algumas vezes é vista em pessoas sem nenhum sintoma.

 

Escoliose degenerativa: escoliose é quando a coluna faz uma curva lateral de mais de 10 graus. Ela é causada geralmente por artrose e discopatia degenerativa em seus estágios avançados. Algumas vezes as pessoas com escoliose degenerativa também apresentam estenose do canal lombar, espondilolisteses e hérnias de disco. Cerca de 50% das pessoas com mais de 60 anos têm escoliose degenerativa e a maioria delas tem poucos sintomas. Entretanto, escoliose degenerativa é uma causa comum de dor nas costas em pessoas com idade avançada.

 

Causas menos comuns: raramente dor nas costas é causada por uma doença séria da coluna como uma infecção, tumor ou doença conhecida como síndrome da cauda equina, que causa fraqueza e dificuldade de urinar ou defecar além da dor nas costas. Outra causa de dor nas costas é a fratura por compressão, quando uma ou mais vértebras são fraturadas devido ao enfraquecimento do osso pela osteoporose.

Em pessoas jovens, dor nas costas associada à rigidez pela manhã pode estar associada com uma doença inflamatória conhecida como espondilite anquilosante.

 

Dor lombar ocupacional: fatores que contribuem para a dor nas costas no trabalho incluem má postura ao sentar ou ficar em pé, sentar ou ficar em pé por longos períodos, dirigir longas distâncias, erro de postura para levantar algum objeto do chão, levantar peso excessivo ou atividades de impacto repetitivo. Dor nas costas é mais comum nas pessoas que trabalham sentadas por períodos prolongados e nas que trabalham carregando peso.

 

Fatores psicológicos podem contribuir para dor nas costas. Entre os fatores podemos citar depressão, ansiedade, estresse, insatisfação no trabalho, etc. Estresse no trabalho pode ser manejado com aconselhamento através de diferentes técnicas. Muitas vezes a melhora nesses fatores psicológicos aumenta as chances de a pessoa se recuperar da dor nas costas.

 

 

SINTOMAS

 

Radiculopatia: radiculopatia ocorre quando uma raiz nervosa está irritada por uma protrusão de disco, hérnia de disco ou artrose da coluna. As radiculopatias se apresentam como uma dor irradiada para a perna, formigamento, perda de sensibilidade ou fraqueza muscular em áreas específicas da raiz nervosa afetada no membro inferior. Muitas pessoas com esse sintoma melhora sem tratamento específico (ou invasivo).

 

Ciática: é o nome que se dá à dor irradiada para a coxa, perna e as vezes até o pé: é o sintoma mais comum da radiculopatia. Chamamos ciática quando a dor é na parte de traz ou do lado da coxa (nevo ciático) e femuralgia quando a dor é na parte da frente da coxa (nervo femural). Se a ciática é causada por uma hérnia de disco, a dor geralmente piora quando a pessoa tosse ou espirra.

 

Claudicação neurogênica: é o tipo de dor que ocorre quando os nervos da cauda equina estão comprimidos no canal vertebral por estreitamento devido a artrose ou outras causas. A dor corre na parte de traz das nádegas, coxas e pernas, muitas vezes dos dois lados. A dor geralmente piora quando a pessoa caminha e melhora quando a pessoa flexiona o tronco para frente ao sentar se inclinando para frente.

 

Quando suspeitar de algum problema mais sério: a maioria dos casos de dor nas costas são manejados por médicos não especialistas. Entretanto, em alguns casos um cirurgião de coluna (neurocirurgião ou ortopedista) deve ser consultado. Se você apresenta algum desses quadros você deveria ser avaliado por um especialista em coluna:

  • Dor nas costas em pessoas idosas que nunca tiveram dor nas costas.

  • Dor que não melhora sozinha, mesmo durante a noite ou quando a pessoa está deitada.

  • Fraqueza em uma ou ambas as pernas, problemas para urinar, defecar ou disfunção sexual podem ser sintomas de síndrome de cauda equina. Se houver algum desses sintomas, um médico especialista em coluna deve ser consultado com urgência.

  • Dor nas costas acompanhada de febre ou emagrecimento.

  • História de câncer, baixa imunidade, osteoporose, ou uso de corticoide por um período prolongado de tempo.

  • Dor nas costas depois um acidente como queda ou acidente de carro.

  • Dor irradiada para a perna, principalmente se acompanhada de fraqueza na perna.

  • Dor nas costas que não melhora em 4 semanas.

 

EXAMES

A maioria das pessoas com dor nas costas melhora em 4 a 6 semanas sem nenhum tratamento específico ou com medidas simples caseiras.

 

Em situações específicas, como as citadas acima, exames de imagem podem ser recomendados:

 

Raio X: pode ser recomendado em situações específicas principalmente para pacientes com risco para osteoporose para detectar fraturas em compressão, em pacientes com história de câncer, e também servem para diagnosticar escoliose. O raio X não mostra hérnia de disco ou estenose do canal lombar.

 

Tomografia computadorizada e Ressonância Magnética: são exames mais detalhados dos ossos e dos tecidos moles que compõem as costas. A ressonância é geralmente necessária para diagnósticar hérnia de disco ou estenose do canal lombar. Um desses exames pode ser recomendado se o paciente apresenta algum sinal de infecção ou câncer, se cirurgia está sendo considerada, ou se a dor nas costas persiste por mais de 4 a 6 semanas e a causa não pode ser determinada por outros métodos.

 

TRATAMENTO

A dor nas costas geralmente se resolve sozinha em algumas semanas, mesmo que o exame mostre hérnia ou protrusão de disco, a menos que a dor nas costas seja causada por um problema sério. Uma crise de dor nas costas geralmente é manejada com alguns elementos:

 

Permanecer ativo: muitas pessoas têm medo ou receio de que podem “lesionar” mais as costas ou atrasar a recuperação se permanecerem ativas. Entretanto, permanecer ativo é uma das melhores coisas que você pode fazer para as suas costas. Na verdade, repouso na cama prolongado NÃO é recomendado. Diversos estudos científicos mostraram que pessoas com dor nas costas se recuperam mais rapidamente quando elas se mantêm ativas. O movimento ajuda a aliviar o espasmo muscular e previne perda de força dos músculos.

Embora atividade de alto impacto devam ser evitadas, é permitido continuar com as atividades normais do dia-a-dia e exercícios leves, como caminhar. Se alguma atividade muita causa dor nas costas, pare de fazer a atividade e tente outra.

Se a dor nas costas é muito forte, repouso na cama pode ser necessária por um período curto de tempo, geralmente não mais que 1 dia.

Calor local: usar uma bolsa de água quente pode ajudar na dor durante as primeiras semanas. 

 

Trabalho: a maioria dos especialistas recomenda que os pacientes continuem trabalhando se é possível evitar ficar em pé ou sentado por várias horas e evitar levantar peso. Algumas pessoas precisam ficar afastadas do trabalho se a sua atividade não permite que a pessoa sente ou fique em pé confortavelmente. 

 

Medicações para dor: a maioria dos episódios de dor nas costas se resolve sozinho. Enquanto isso não ocorre, podem ser necessários medicamentos para controle da dor. Geralmente são usados anti-inflamatórios e relaxantes musculares. A prescrição do medicamento deve ser feita por um médico. É preferível usar o anti-inflamatório por um período regular de 3-5 dias do que tomar somente quando a dor ocorre. O relaxante muscular deve ser usado com orientação médica, haja vista que pode provocar sonolência. Medicamentos mais fortes como os opióides (derivados da morfina) geralmente não são indicados na maioria dos casos de dor nas costas.

 

Exercícios: exercício físico pode ajudar a aumentar a flexibilidade das costas e fortalecer os músculos que suportam as costas. Os exercícios mais recomendados são aqueles que envolvem alongamento e fortalecimento da musculatura, como caminhada, natação, bicicleta e exercícios aeróbicos de baixo impacto. Alguns exercícios específicos podem ajudar a fortalecer os muscular na região lombar. Pessoas com episódios frequentes de dor nas costas devem continuar a pratica de exercícios físicos para prevenir novos episódios de dor.

 

Outras formas de tratamento que podem auxiliar no episódio de dor lombar são a fisioterapia, massoterapia, acupuntura, yoga. Algumas pessoas que têm muito medo de movimentar as costas, ou as que apresentam depressão ou ansiedade se beneficiam de psicoterapia. 

 

Infiltrações: em algumas situações a injeção de medicamento anestésico e anti-inflamatório pode ajudar na dor nas costas. São situações geralmente específicas, principalmente quando se identifica o ponto específico gerador da dor. As infiltrações podem melhor temporariamente a dor principalmente em pacientes com dor nas costas e radiculopatia.

 

Coletes: não são recomendados para tratar ou prevenir dor nas costas na maioria das vezes.

 

CIRURGIA

Uma minoria de pessoas com dor nas costas vai precisar de cirurgia. A cirurgia é necessária quando há síndrome da cauda equina (compressão e perda de função das raízes nervosas da cauda equina), quando há outra condição séria como tumor ou infecção, quando há muita perda de força na perna devido à hérnia de disco ou estenose do canal lombar.

A cirurgia pode também ser recomendada para pessoas com radiculopatia persistente devido à hérnia ou protrusão do disco ou estenose do canal vertebral que não melhora com outros tratamentos. Alguns casos de discopatia degenerative, artrose facetária e escoliose denegerativa podem necessitar de cirurgia.

PREVENÇÃO DA DOR NAS COSTAS

Há inúmeras formas de prevenir outro episódio de dor nas costas. As principais delas são se manter ativo e realizar exercícios físicos. Atividade física deve combinar atividade aeróbica para melhorar o sistema cardiovascular e atividades de exercícios específicos para fortalecimento dos músculos das costas, quadris e do abdome.

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